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Foto do escritorTomás Pereira

Noruega, uma mina de talento / Norway, a talent gold mine

PORTUGUÊS: Numa altura que a Noruega vive dias de bonança, futebolisticamente falando, com diversos talentos por esse mundo fora, tais como Erling Håland, Martin Ødegaard, Sander Berge, Kristoffer Ajer...e surge-vos então uma pergunta natural que é:

"Aparecerão mais jogadores noruegueses dessa qualidade nos próximos anos?"


A minha resposta é: Tenho a certeza que sim! Porém, não tantos como poderiam ser...


"Então mas porque é que dizes isso?"


Vou então tentar tentar explicar, baseado na experiência que lá vivi e na forma como se estrutura o Futebol Norueguês. Ponto 1: As crianças Norueguesas têm um talento incrível e são dos poucos países mundiais que, fruto da sua segurança e qualidade das infra-estruturas, as crianças podem ir para os campos e jogar a tarde toda, como fazíamos quando jogávamos na rua. No Futebol Norueguês, desde que iniciam até aos Sub-13/14, as crianças são "treinadas" pelos pais, sendo que, em clubes melhor estruturados, os pais já recebem indicações e formação do clube de como os treinos deverão ser estruturados.

"Então mas qual é a razão de ser dessa forma?" A razão é simples, primeiro não existem muitos treinadores credenciados, sobretudo em zonas com menor população, e depois, até essas idades a política educativa é baseada na inclusão, em que todos se sintam bem em grupo e, como tal, não faz sentido investir num treinador para esses escalões etários.


Dentro de um clube, se inscrever mais que uma equipa no campeonato, não é permitido fazer-se uma selecção dos melhores jogadores numa equipa, e dos piores noutra...as equipas têm que ser heterogéneas, ou seja, com crianças com mais potencial, e outras mais limitadas de forma a promover o equilíbrio competitivo e, sobretudo, mais uma vez, a integração social.


"Na tua opinião, isso é bom para o crescimento das crianças ao nível do Futebol?"


Eu diria que sim e não. Por um lado, a nosso ver, os "melhores" deverão jogar com os "melhores" o mais cedo possível, para que consigam continuar a crescer, com obstáculos e dificuldades e para que não desmotivem e abandonem. Por outro, "quem são os melhores"? Os "melhores" de hoje podem não ser os "melhores" de amanhã! E será que os "melhores", pelo facto de jogares com os "piores" não desenvolvem outro tipo de competências sociais e humanas que lhes vão ser benéficas futuramente, tanto ao nível da sua vida pessoal e social, como no desporto? É fundamental que exista a diferenciação em treino, com grupos homogéneos em termos de qualidade, isso é claro!

"E quando chega aos Sub-13/Sub-14, como funciona?"


Nessa altura, já se começa a fazer a diferenciação e existem duas linhas (Bredde e Elite) que não são estanques, ou seja, os atletas do Bredde (Formação) poderão dar o salto qualitativo mais tarde (como é natural no desenvolvimento) e poderão apresentar qualidade para poderem dar o salto para a Elite, tal como os atletas da Elite, caso "estagnem" possam passar para o Bredde. É uma abordagem interessante, com muito potencial, na qual Portugal, a nossa ver, deveria analisar, percebendo os pros e os contras.


"E qual é a tua opinião acerca do desenvolvimento dos jogadores, dos Sub-13/14 até aos Séniores?" Bom, eu acho um dos verdadeiros problemas reside aqui, na faixa dos Sub-13/14 aos Sub-19. Os atletas Noruegueses e a cultura Norueguesa é "louca" pelo treino, pelo culto do corpo. Treinam muito, mas mesmo muito! Tenho histórias engraçadas que vos poderei contar. Para perceberem ao que me refiro, tive um Guarda-Redes (Sub-16) que antes de um jogo estava a subir escadas ao pé coxinho, ora com uma perna, ora com a outra...é óbvio que esse Guarda-Redes não jogou nesse jogo, mas como vais explicar a uma Guarda-Redes que não joga porque não iria estar no auge das suas capacidades, quando esse tipo de comportamentos era normal e aceitável na Noruega? Seguindo, eu nunca ouvi falar tanto em "treino intervalado" como na Noruega! Era nas pré-épocas, era nos intervalos dos exercícios, era no final dos treinos...e eu só perguntava: "Mas não se pode fazer isto com bola? Manipulando os exercícios não vamos ter o mesmo tipo de estímulo? É que eu não quero fazer intervalados nos jogos sem bola, isso é mau sinal, é sinal que eu não a tenho na minha posse!"


E então existem várias barreiras culturais às quais temos que nos adaptar e, calmamente, tentar contornar para que possamos trabalhar da forma que achamos mais adequada para que consigamos atingir o nosso fim e tirar o melhor que cada jogador tem para dar, visto que o potencial é enorme!

Em termos de treino em si, o Norueguês é tímido por natureza. Os treinadores têm dificuldades em criar um exercício para a sua forma de jogar, utilizando em grande parte das vezes exercícios que são utilizados pelos grandes clubes, sem que exista uma linha condutora na evolução da complexidade do ensino do jogo e o problema reside sobretudo aí. Nesta faixa etária a forma de ensino do jogo, a nosso ver, não é mais adequada, e o ensino do jogo não acompanha a complexidade do mesmo, na transição do Futebol de 7/9 para o Futebol de 11, daí que, ao observar um jogo de um campeonato norueguês, consigamos observar um espaço enorme entre linhas e um jogo muito partido porque os jogadores têm tendência a seguir o tipo de estímulos que são sujeitos (o desejo de acelerar sempre que tiver com bola, mesmo quando em situações desvantajosas), tendo dificuldade em perceber e a pautar o ritmo do jogo, quando "está a pedir" para acelerar e quando "está a pedir" para desacelerar e gerir a posse para podermos descansar com bola, reagrupar e voltarmos a desorganizar o adversário para depois sim, acelerar de novo, chegando lá a cima todos juntos para depois podermos pressionar todos junto logo que percamos a bola.

"Mas então como é que é possível que surjam atletas desta qualidade, quando a abordagem ao treino poderia ser feita de outra forma?"

Existem aqui alguns factores que temos que ter em consideração.


Não é por acaso que Martin Ødegaard apenas está a "aparecer" na corrente época desportiva. Precisou de 4 épocas, a rodar em clubes de menor dimensão, para se adaptar ao contexto competitivo e à exigência do referido contexto para crescer, para perceber o que o jogo exige, para poder finalmente mostrar toda a sua qualidade.


Relativamente ao Erling Håland e ao Kristoffer Ajer, são jogadores de postos específicos, ou seja, o Erling é um jogador que entra, maioritariamente na última fase (finalização) e que, em termos de conhecimento do jogo, apenas necessita de conhecer os princípios específicos da sua posição, enquanto que, relativamente ao Kristoffer Ajer, é um Defesa Central, de 1,97m, a jogar no Celtic, num contexto competitivo em que se vive muito à base do contacto físico e de muitas bolas longas, tentando explorar o jogo aéreo, espaço esse que é "a sua praia".


O Sander Berge, pelo seu poderio físico (1,95m), tem as características ideais para a sua posição (Médio Defensivo), porém, pensamos que, à semelhança do Martin, passará por um período de adaptação à Premier League até perceber o contexto competitivo e que, com um treinador competente, lhe vai ajudar a chegar ao topo, fruto de todo o seu potencial. Não é por acaso que Bruno Fernandes chegou e imediatamente se impôs no Man. Utd., porque o seu conhecimento do jogo é enorme, e o seu talento acompanha todo esse conhecimento! Todos têm um facto comum, todos sairam da Noruega muito novos (Erling com 18, Martin com 16, Sander com 18, Kristoffer com 18), e isso foi benéfico para todos poderem chegar ao nível que chegarão, visto que o contexto competitivo na Noruega é baixo e todos sairam numa fase em que ainda têm margem para se adaptarem aos novos contextos competitivos. Portanto, respondendo à pergunta em questão, os atletas noruegueses têm um potencial tremendo porém, para que possam atingir um nível de excelência têm que sair do seu país o mais cedo possível, sendo identificados também o mais cedo possível.

"Se tivesses que lançar 3 nomes de jogadores noruegueses que acredites que possam chegar ao topo, quem seriam?"


Bom, essa é uma pergunta muito difícil porque os factores inerentes ao desenvolvimento e crescimento desportivo são imensos, e todos têm que estar reunidos e equilibrados, bem como o trajecto de carreira ser efectivamente bem delineado para que isso seja possível.


Mas se tiver que enumerar 3 nomes neste momento, que ainda jogam na Noruega, seriam Dylan Murugesapillai (Lillestrøm SK), Kristoffer Klaesson (Vålerenga) e, se for recrutado rapidamente, Giba Sesay (Strømsgodset).


O Edvard Tagseth, já pertence aos quadros do Liverpool FC, sendo que não o enumerei por esse motivo, um craque da cabeça aos pés! --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ENGLISH: At a time that Norway is going through exciting times, footballistically talking, with many talents all around the world, as Erling Håland, Martin Ødegaard, Sander Berge, Kristoffer Ajer...maybe you have a natural question in your minds:

"Will many other talents from this quality show up in the next upcoming years?"


My answer is: I'm sure it will! But, not as many as it could be...


"But why do you say that?"


I'll try to explain a bit more, based in the experience I had there and in the way the Norwegian Football is structured. Point Number 1: The Norwegian children have an incredible talent and they are, one of the few countries in the world that, due to their fantastic facilities and security in the country, the children can go to the fields and play the whole day, like we did, some years ago in our country. In the Norwegian Football, since they start until the Under 13/14, the children are "coached" by parents, where, in some top clubs, the parents get guidelines and education on how to structure a training session.

"What is the reason to be like that?" The reason is simple, first Norway doesn't have many educated coaches, specially in the areas with less population and then, until those ages, the educational politics are based in the inclusion, with all feeling comfortable in group, and according to that, it doesn't make sense to invest in coaches for those ages.


Inside a club, if they sign more than one team in the league, they are not allowed to choose the best players to one team and the worst to the other...the teams need to be balanced, with players more developed and players less developed, to promote the competitive balance and, once again, the social integration.


"In your opinion, is that good for the player's development in terms of Football?"


I would say YES and NO. By one side, the "best" should play with the "best" as soon as possible, to be able to keep growing, facing difficulties and obstacles and to be sure they don't drop to play Football. On the other side, "which are the best"? The "best" of today maybe are not the "best" of tomorrow! And won't the "best", by playing with the "worst" being developing other type of social and human competencies that will be essential for their future lives, both in their social and personal life, but also in sports? In training, it's clear that is essential to have a differentiation, with groups organized by quality!



"And how is it when the the players get into the Under 13/14?"


At that times, the clubs are able to do the differentiation in two lines (Bredde and Elite) that are not "stocked", the players from the Bredde (Development) can develop later (as it is normal in the development of a player) and have quality to jump into the Elite, and the same to the players from the Elite that are too mature and don't develop as much as it was expected, they can pass to the Bredde. It's an interesting approach, with a lot of potential, that Portugal should analyze and understand which are the pros and cons of it.


"What is your opinion about the player's development, from the Under 13/14 until the A-Team?" Well, I think some of the main problems are in this range of age. The Norwegian athletes and the Norwegian culture are "crazy" for training, for the cult of their bodies. The train a lot, really a lot! I have fantastic funny stories to tell you. For you to understand what I mean, I had a Goalkeeper (Under 16) that, before a match, was climbing stairs with just one leg at the time, first with one, and then another...obviously that Goalkeeper didn't play that match, but how can you explain a Goalkeeper that he won't play because he wouldn't be at the best of his capacity, when that kind of behaviors are normal and accepted in Norway? Let's move on! I've never heard so much talking about "Interval Training" as I heard in Norway! It was in the Pre-Seasons, in between the exercises, in the end of te trainings, and I always asked: "But can't we do this with ball? Manipulating the exercises are we not able to get the same type of effort? Because I don't want to have "Interval Trainings" in my matches without ball, that's a bad sign, it's a sign that I don't have the ball possession!"


So there are some cultural barriers that we have to adapt and, slowly, try to go around to be able to work in the way we believe it's the best to be able to take the best of each single player, because the potential is huge!

Specifically, in terms of training, the Norwegian is naturally shy. The coaches have several difficulties to create an exercise adjusted to their way of play, using most of the times, exercises that are used by the big clubs, they see in YouTube or in another platforms, without having a sequencial line of thoughts, respecting the complexity evolution of teaching the game, and in my opinion, the main problem comes here.


At that age, the skills to teach the game doesn't follow the complexity of the game, in the transition from the 7 a side / 9 a side to the 11 a side, and it's easy to see, when we watch a Norwegian match, an huge space in between lines and a "broke" game because the players have the tendency to follow the type of efforts they get (the wish to accelerate every time they have the ball, even if they are in disadvantage situations), having difficulties to understand and slow don't the pace of the game, when the game "asks" to accelerate and when it "asks" to slow down the pace and keep the ball possession to be able to rest with ball, regroup and trying to disorganize the opponent for, when we manage, increase the pace again, to arrive all together to the opponent half so we can be able to press all together if we loose the ball.




"But how can be possible to come up talented players with this quality, when the approach to the training could be done in another way?"

There are some facts that we need to have in consideration.


It's not by accident that Martin Ødegaard is only "showing up" in the current season. He needed 4 years, on loan in different clubs at an lower level then Real Madrid, to adapt himself to the competitive context and to the demanding of that context to grow, to understand what the game requires, to be able to, finally, show all of his potential.


Related to Erling Håland and Kristoffer Ajer, they are players from specific positions, são Erling is a player that joins, mainly, the last stage of the attack (Finishing/Shooting) and, it doesn't require an huge game understand, require mainly to understand the specific principles from his position, and Kristoffer Ajer is a Centerback, with 1,97m, playing in Celtic, in a competitive context that is based in duels and long balls, to explore the heading situations, and that is "his beach".


Sander Berge, by his physical power (1,95m), has the ideal characteristics for his position (Defensive Midfielder), but we believe that, as it was with Martin, he will need a period of adaptation to the Premier League until he can understand the competitive context and, with a competent coach, will help him to reach the top, due all of his potential. A clear example of the need to understand the game to perform is Bruno Fernandes, that arrived in Man. Utd. and started to perform at an high level immediately, because is game understanding is huge and his talent follows closely his game understanding skills. All have a common fact, all left from Norway very young (Erling with 18, Martin with 16, Sander with 18, Kristoffer with 18), and that was important for all of them to reach the level they are now, since the competitive context of Norway is low and all left at a stage that still have margin to adapt themselves to the new competitive environments. So, answering the question, the Norwegian players have an huge potential as I mentioned before but, to be able to reach an excellence level, they have to leave their country as soon as possible, being identified also as soon as possible.

"If we challenge yourself to say 3 names of Norwegian players that you believe that can reach the top, who would they be?"


Well, that's a very hard question because the associated factors to their development are many, and all need to be balance and connected, the same as the quality of their career planning to make sure that's possible to reach the top.


But if I would need to say 3 names right now, that still play in Norway, it would be Dylan Murugesapillai (Lillestrøm SK), Kristoffer Klaesson (Vålerenga) and, if he is recruited early , Giba Sesay (Strømsgodset).


Edvard Tagseth is already a part of Liverpool FC, that's why I didn't mentioned him, he is an huge talent, from the top of his head until the tip of his toes!

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