PORTUGUÊS
Comecemos por este exercício:
Já muitos o utilizaram, certo?
3 equipas, 2 equipas a manter a posse de bola e uma equipa no meio a tentar roubar. Simples!
E quais são as condicionantes que colocam no exercício?
Quem não coloca nenhuma, a sequência vai ser esta... A equipa de verde perde a bola para a vermelha (tem que ir para o meio), os 3 jogadores verdes reclamam com o jogador que perdeu a bola e, durante esse período de tempo de discussão, já as duas outras equipas fizeram 7/8 passes e, já passaram do espaço fechado (para pressionar - pressionar o portador da bola e fechar linhas de passe mais próximas) para ocupar um espaço mais longe da bola para que consiga ter mais espaço para pensar e executar (abrir o campo - largura e profundidade). Ora, quando a equipa verde tenta pressionar a bola, já as outras duas equipas estão organizadas, com uma ocupação de espaço racional, sendo muito mais difícil recuperar a bola, em que a equipa verde vai andar a correr "que nem loucos" para a tentar recuperar de novo. Isto, será o reflexo desta equipa no jogo ao fim de semana, uma equipa que, ao perder a bola, demora uma eternidade a reagir, deixando o adversário tirar a bola da zona de pressão e explorar o espaço vazio onde tentará tirar proveito dessa situação de desequilíbrio da equipa contrária. Conclusão do Treinador: O exercício não resulta com a minha equipa!
Ah espera lá! Mas com os meus, quando perdem a bola no exercício eu grito para eles reagirem!!!
Bom, então vais ter de gritar também em todos os jogos, porque eles em vez de reagir ao estímulo que o jogo lhes pede, vão reagir ao estímulo que tu lhe dás!
A magia do Treino e da profissão de Treinador é a de que não existem verdades absolutas e que não existem fórmulas mágicas, apenas o que verdadeiramente acreditamos porque se não acreditarmos piamente no que fazemos nunca conseguiremos transmitir essas ideias aos jogadores e do porquê de serem fundamentais para a sua melhoria, eles vão perceber as suas dúvidas ainda antes de você as ter!
Porém, existem elementos adicionais que podemos juntar aos exercícios para que os tornem mais eficazes. Neste caso para incentivar e desenvolver a capacidade reactiva dos atletas, na mudança de atitude mental, sobretudo ofensiva para defensiva que é onde existe normalmente maior resistência caso não seja trabalhado em todos os exercícios utilizados, uma condicionante simples que poderíamos colocar era: - Se a equipa que está no meio permitir que as duas equipas com bola façam 5 passes, conta 1 ponto
- No final perde a equipa com mais pontos
Com esta simples condicionante, o grito passa a ser acessório em vez de essencial, desenvolvendo a autonomia dos jogadores na necessidade de reacção à perda da bola porque com o facto de "perderem" 1 ponto a cada 5 passes, obriga-lhes a reagir de imediato, sem que tenham sequer tempo de pensar em discutir com quem perdeu a bola! Depois, pouco a pouco poderemos ir introduzindo os princípios da Transição Defensiva e como poderemos recuperar a bola de forma mais eficaz, mas com esta pequena condicionante, garantido-vos que verão um exercício com o dobro da intensidade, com o dobro do foco e muito mais desgastante mentalmente, porque ninguém quer "encher" no final do exercício por ter perdido. E isto será a imagem da vossa equipa no jogo, uma equipa super agressiva, no momento que perder a bola!
E mais para a frente, nomear uma equipa para ir para o meio que não era para ser a que estaria...que maravilha que é ver a frustração dos jogadores mas mesmo assim a reagirem, com uma intensidade e um fulgor incrível! Que tiro para o seu inconsciente! Neste caso utilizámos uma CONDICIONANTE para MELHORARMOS O NOSSO "JOGAR" e nos MANTERMOS VIVOS NO JOGO! Existem situações que, acontece precisamente o CONTRÁRIO, criamos condicionantes que, indirectamente, fazem com que NOS ESTEJAMOS A "ENFORCAR" e a estragar um trabalho de várias semanas, a nível da qualidade do nosso jogar, que acaba por vezes por nos criar problemas graves relativamente à gestão do grupo de trabalho, em que estes passam a não acreditar na nossa capacidade, fruto dessa má elaboração do exercício.
Deixamo-vos então este exercício que vimos ser realizado há bem pouco tempo:
O Treinador definiu-o como um exercício para melhoria da Organização Ofensiva, com o foco na equipa azul (ambas a equipas passavam por essa situação) e em que a condicionante para a equipa azul era que só poderiam dar 2 toques no meio campo defensivo e que não existiam limite de toques após a bola passar para o meio campo ofensivo. Ora, nós acreditamos que o Treinador tivesse a melhor das intenções na elaboração do exercício. Possivelmente num jogo apoiado desde trás, chegando ao meio campo ofensivo com a equipa junta, preparada para pressionar imediatamente em caso da perda da bola.
Porém, a nosso ver, o objectivo da circulação de bola deverá ser sempre com o intuito de atrair o adversário, fazendo-o movimentar-se, desorganizando-o, e explorando o espaço que este irá criar.
Dito isto, a sequência temporal dos momentos do exercício será esta...
A equipa azul com a bola, consegue uma sequência de 4/5 passes porque os Médios aproximam dos Defesas para realizar essa sequência de passes curtos, conseguindo atrair o adversário, e tirando a bola da zona de pressão, procurando o espaço livre que é do lado contrário onde receberá o Central do lado contrário, com imenso espaço para progredir e atrair (1º princípio ofensivo - progressão) e criar o desequilíbrio mas, fruto da condicionante, precisa de ajuda do lateral direito que poderia (e deveria) já estar projectado criando superioridade no próximo sector. O facto do Lateral Direito ter de baixar para vir oferecer uma linha de passe, vai prejudicar a sua equipa porque vai trazer marcação consigo, chamando o adversário à pressão... Finalmente, a equipa azul, sentindo-se apertada, irá bater longo, procurando os Médios Alas e o Avançado, tentando aproveitar o espaço no meio campo ofensivo.
Com esta sequência de acontecimentos, o Treinador não só não está a conseguir atingir os seus objectivos (jogar de forma apoiada desde trás, chegando ao meio campo ofensivo com a equipa junta, preparada para pressionar imediatamente em caso da perda da bola), como também está a criar nos seus jogadores, através de comportamentos conscientes, acções que despertam o seu sistema límbico e o seu instinto de sobrevivência, que numa acção que para não perder a bola, bate longo, criando esse comportamento de forma inconsciente aquando de estímulos semelhantes, no jogo ao fim de semana. Comportamento da equipa no fim de semana: Não consegue manter a posse de bola quando se encontra sob pressão. Conclusão do Treinador: Os jogadores não conseguem manter a posse de bola no jogo porque têm pouca qualidade.
Estes dois exemplos servem apenas para percebermos a importância das condicionantes que colocamos nos exercícios sobretudo quando a Profissão de Treinador uma profissão tão instável e volátil, porque estas podem funcionar como uma faca de dois gumes e que, quando bem utilizadas colocam-nos vivos e ajudam ao crescimento da equipa, mas quando não são bem utilizadas, castram o processo de crescimento da equipa e podem "afundam-nos", estando a nossa posição como Treinador em risco.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------- ENGLISH
Let's begin with this exercise:
Many of you used it, right?
3 teams, 2 teams keeping the ball possession and one team in the middle trying to steal the ball. Simple!
And which are the rules you use in the exercise?
The ones that don't use any rule, the sequence will be this... The green team looses the ball to the red team (and then they have to go to the middle), the 3 green players argue with the one that lost the ball and, during that arguing period, the other two teams already did 7/8 in between them and, already passed from a closed space (to press when they didn't have the ball - pressing the ball holder and closing the closer passing lines) to occupy a space further the ball to be able to have more space to think and take their decision (open the field - width and depth).
So, when the green team tries to press the ball holder, the other two teams are already organized, with a using an optimal space of the field, being much harder to get the ball again, where the green team will be "running like crazy" to try to get it again.
This will be the image of the match in the weekend, a team that after loosing the ball, takes "hours" to react, letting the opponent to take the ball out of the press zone to explore the empty space to take advantage of that positional unbalance from the opponent team. Coach Conclusion: The exercise doesn't work with my team!
Wait a bit! But with my players, when they loose the ball I shout so they can react!!!
Well, so you'll have to shout also in every match, because instead of reacting to the effort and the situation the match is "asking", they are going to react to the effort you give them!
The magic of the Training and the Football Coaching job is that there's no absolute truth and no magic formulas, just what we truly believe because if we don't believe in what we do we will never be able to transmit those ideas to our players and why those ideas are essential for their individual development, they are going to understand your doubts even before you have it!
However, there are additional elements we can add to the exercises to make them more effective. In this case to increase and develop the reactive skills from our players, the fast changing of mental attitude, mainly from offensive to defensive that is when normally there's more resistance if it's not worked in every exercise we use, a simple rule we could use was:
- If the team that is in the middle let the 2 teams with the ball possession to make 5 passes, count 1 point
- In the end, the team with more points loose
With this simple rule, the shout starts to be an accessory instead of essential, developing the autonomy of our players with the need to react when they loose the ball because the fact to loose 1 point in every 5 passes, demand them to react immediately, without having time to think to argue with the one who lost the ball!
Then, slowly we can be introducing the Defensive Transition principles and how can we get the ball in a more effective way, but with this easy rule, we guarantee you that you will see an exercise with the double of the intensity, the doble of the focus and much more intense mentally, because nobody wants to "pay" in the end of the exercise by loosing. And this will be the image of your team in a match, a super aggressive team in the moment when they loose the ball!
A bit more forward, nominate a team to go to the middle, during the exercise, that was not the one that should go to the middle...marvelous to see the frustration of the players but still reacting, with a strong intensity and an huge blaze! What a shot to the unconscious!
In this case, we would would a RULE to IMPROVE OUR WAY OF PLAY and to KEEP US ALIVE IN THE MATCH! There exist situations that happen exactly THE OPPOSITE, we create rules that, indirectly, put our head hanging in the rope and damaging a work of many weeks, in terms of quality of our way to play, and that can create us some problems in terms of team leadership and management, where the players don't believe in our coaching skills, due to a bad planning.
We leave you an exercise we saw, not so long ago:
The Coach defined it as an exercise to improve the quality of the Offensive Organization, with focus in the blue team (both teams would pass by that situation) and the rule for the blue team was that they only could give 2 touches in the defensive half of the field and without limit of touches in the offensive half.
We believe the Coach had the best of his intentions when he created/used the exercise. Possibly to have a short passing game from the back, arriving to the offensive half of the field with the team all together and ready to press immediately if they loose the ball.
In our vision, the objective of the ball circulation should be always with the intention to attract the opponent, making them moving, disorganizing them, to explore the space they will leave.
The sequence of the episodes during the exercise would be this...
The blue team with the ball, manage to have a sequence of 4/5 passes because the Midfielders come down near the Defenders to be able to fulfill this sequence of short passes, managing to attract the opponent, and taking out the ball from the press zone, finding the free space that is in the opposite side, where the Centerback from the other side will get the ball, with a lot of space to progress and attract (1st offensive principle - progression) and unbalance the opponent team, but due the rule of the exercise, he needs help from the Right Back that could (and should) be high in the field to create a numerical superiority in the next sector. The fact that the Right Back has to come down to offer a passing line, will bring problems to the team with ball because he will bring the player that is marking him, inviting the opponent to press stronger... Finally, the blue team, feeling threaten and pressed, will kick the ball long, looking for the Wingers and the Striker, trying to take advantage of the space in the offensive half.
With this sequence of situations, the Coach is not being able to achieve his objectives (Short passing game from the back, arriving to the offensive half of the field with the team all together and ready to press immediately if they loose the ball), but is also creating in his players, through conscious behaviors, actions that "wake up" the limbic system and the survival instinct, that in an action to don't loose the ball, kicks a long ball, creating that behavior in an unconscious way when the players face similar efforts, in the matches in the weekend. Behavior of the team in the weekend: Can't keep the ball possession when over pressure. Coach Conclusion: The players can't keep the ball possession in the match because they don't have enough quality to do it.
These two examples were just to understand the importance of the rules we use in the exercises, specially when the Coaching job is so unstable and volatile, because it can be a double-edge sword, and that, when well used make us alive and help the growing and development of a team, but when it's not well used, can neuter the development process and can "sink us down", being our Coach position in risk.
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