PORTUGUÊS
Longe vão os tempos onde o lateral era considerado o jogador menos importante e menos influente no processo ofensivo das equipas.
Desde que me lembro habituei-me a ver os laterais como jogadores única e exclusivamente de corredor lateral. Ao longo dos anos são vários os exemplos de laterais altamente ofensivos, desde Roberto Carlos e Cafu, que são muito provavelmente os mais icónicos da minha juventude e que marcaram, sem dúvida a forma como sempre olhámos para a posição, aos mais jovens e promissores como Alphonso Davies e Trent Alexander-Arnold.
A ideia não é propriamente nova e se recuarmos no tempo, à praticamente 100 anos atrás, nos longincos anos 30, o mítico técnico dos Gunners Herbert Chapman apresentou ao mundo a revolucionária formação W-M. Com este sistema o Arsenal tornou-se praticamente imbatível na época e como qualquer receita de sucesso, esta tende normalmente a ser replicada por outros. Assim foi, durante muitos anos, incluindo nos primeiros Mundiais de Seleções este foi o sistema mais utilizado por vários países. Obviamente que o jogo mudou bastante mas aquilo que queria destacar é que a disposição tática utilizada na altura é bastante semelhante à dinâmica que pretendo apresentar.
Se olharmos para o futebol moderno, certamente já repararam nesta “nova” nuance tática que várias equipas começam a adotar de uma forma mais vincada. Um dos melhores e mais recentes exemplos disso é o Manchester City de Pep Guardiola em alguns jogos da época 2018/19, onde o ucraniano Zinchenko ocupou muitas vezes espaços centrais nas fases de construção e criação dos Citizens para arrastar marcações e dar espaço às principais figuras da equipa.
Muito honestamente, eu sou um verdadeiro fã de Guardiola e fã desta forma de jogar, não só do ponto de vista ofensivo como também na possibilidade que nos dá em recuperar rapidamente a bola após a perda. Por isso decidi partilhar algumas das vantagens que considero que esta opção tática nos dá.
Antes de mais, importa referir que esta opção adequa-se a equipas que privilegiam um futebol de posse, associativo e combinativo, algo que está inteiramente relacionado com as qualidades e características dos executantes.
Vamos supor o seguinte cenário: Os extremos permanecem abertos e em profundidade; um dos laterais sobe para espaço central habitualmente ocupado por um médio e o outro lateral junta-se aos centrais, iniciando assim uma construção a três.
Seja qual for o cenário, o princípio é o mesmo e esta opção permite-nos:
Avançar os médios ofensivos para espaços entre-linhas e próximos da baliza adversária, o que com espaço pode ser determinante para o sucesso do ataque.
Obrigar a última linha defensiva adversária a tomar uma decisão. Ou avança para aproximar sobre os nossos médios e deixa espaço nas suas costas que pode ser explorado pelos nossos extremos e avançado ou recua/permanece na posição e abre espaço entre-linhas.
Equipa equilibrada para o momento da perda da bola, mantendo sempre 5 jogadores no mínimo imediatamente prontos para a defender o corredor central.
Potenciar o 1v1 contra o lateral adversário. Se os médios adversários são obrigados a marcar os nossos médios, isto irá obrigar a que os extremos adversários tenham necessariamente de fechar dentro o nosso lateral que está por dentro e por esse motivo vão deixar o seu lateral vulnerável a situações de 1v1 no corredor.
Tal como todas as outras opções táticas-estratégicas que têm surgido ao longo dos anos, utilizar o lateral por dentro tem aspetos positivos e negativos. Algumas das desvantagens encontradas por mim são que, esta variante, esbarra muitas das vezes com as características mais usuais do defesa lateral tradicional, estes, talvez influenciados pela história da posição, habitualmente privilegiam movimentos de sobreposição nas costas dos seus extremos com o objetivo de chegarem a zonas de cruzamento.
Outro aspeto que deve ser tido em consideração é o número elevado de jogadores que por vezes se encontram no corredor central.
Outro fator determinante passa pela capacidade desequilibradora dos extremos que temos à nossa disposição. Sem eles, não faz muito sentido potenciar situações de 1v1 contra o lateral adversário.
Como disse, esta, como todas as outras, é uma opção que trás tanto benefícios como desvantagens. Ou seja, é uma opção muito válida sim, mas apenas se for ao encontro das características dos nossos atletas.
Uma das minhas principais premissas passará sempre por potenciar o individual ao máximo dentro de uma ideia coletiva.
ENGLISH
Gone are the days when the full-back was considered the least important and least influential player in the offensive process.
Since I can remember, I got used to seeing full-backs only as players who can play close to the sideline.
Over the years, there are several examples of highly offensive full-backs, from Roberto Carlos and Cafu, which are probably the most iconic of my youth and which undoubtedly marked the way we always looked at the position, to the youngest and most promising as Alphonso Davies and Trent Alexander-Arnold.
The idea is not exactly new and if we go back in time, practically 100 years ago, in the 1930s, Gunners' mythical coach Herbert Chapman introduced the revolutionary W-M formation to the world. With this formation, Arsenal became practically unbeatable at the time and, like any successful recipe, this usually tends to be replicated by others. So it was for many years, including in the first World Cups, this was the tactic most used by many teams. Obviously the game has changed a lot but what I want to tell you is that this tactical arrangement used at the time is very similar to the dynamics that I will present in this article.
If we look at modern football, you have certainly noticed this “new” tactical option that many teams are starting to use now. One of the best and most recent examples of this is Pep Guardiola's Manchester City in some games of the 2018/19 season, where the Ukrainian Zinchenko often occupied central spaces in the construction and creation phases of the Citizens to drag markings and give space to the main figures of the team.
Honestly, I am a true fan of Guardiola and a fan of this way of playing, not only from an offensive point of view but also in the possibility that it gives us to quickly recover the ball after the loss. So I decided to share some of the advantages that I think this tactical option gives us.
First of all, it should be noted that this option is recommended for teams that play in positional attack, something that is entirely related to the qualities and characteristics of the players.
Let's assume this scenario: The wingers are open and deep; One of the full-backs goes up to the central space usually occupied by a midfielder and the other full-back is close to the Centre Backs, starting a build-up phase with 3 players.
Whatever the scenario, the principle is the same and this option allows us to:
Pushing offensive midfielders to spaces between the lines and close to the opponent's goal, which with space can be decisive for the success of the attack.
Force the opponent's last defensive line to make a decision. Or move forward to get closer to our midfielders and leave space on your back that can be explored by us or retreat / remain in position and make space between lines.
Team balanced for the moment of losing the ball, always keeping at least 5 players immediately ready to defend the center aisle.
Increase the 1v1 against the opponent's full-back. If the opposing midfielders are forced to face our midfielders, this will require that the opposing wingers necessarily have to close our inverted full-back, so they will leave their full-back vulnerable to situations of 1v1 in the last third.
Like all other tactical-strategic options that have emerged over the years, using inverted full-back has both positive and negative aspects. Some of the disadvantages found by me are that, this variant, often comes up against the characteristics of a traditional full-back, these, perhaps influenced by the history of the position, which usually favor overlapping movements on the back of their wingers in order to reach crossing areas.
Another aspect that we must take into account is the high number of players who are sometimes in the center of the pitch.
In addition to these, another determining factor is the hability of the wingers we have. Without them, we should not increase the situations of 1v1 against the opponent full-back.
As I said, this, like all others, is an option that brings benefits and disadvantages. In other words, it is a very good option, but only if it is appropriate to the characteristics of our players.
One of my main premises will always be to maximize individual capacity within a collective idea.
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