PORTUGUÊS
Todos nós estamos a passar um período estranho. Estar em casa, rever jogos das décadas de 90 ou as grandiosas campanhas europeias dos clubes portugueses é bom mas não chega!
Eu sou (nós somos) completamente dependente(s) deste jogo, e sem ele existe um vazio enorme.
"Futebol é uma droga. Não é dinheiro. É paixão, é amor. Somos um pouco autistas. Parecemos fantasmas em casa, mas isto é mesmo paixão"
Vítor Pereira em Fórum da ANTF 2019
Se vocês são como eu, de certeza que já estão com a cabeça no próximo desafio.
“na próxima época vou construir a 3 com o médio defensivo a cair entre os centrais”
“na próxima época vou jogar com os extremos por dentro e com os laterais sempre muito abertos e projetados”
“na próxima época vou jogar com 2 avançados”
Inspirados pelo jogo que nos apaixona, estas e outras ideias já vos devem ter surgido. Isso é perfeito! Em "isolamento" o nosso cérebro precisa de estímulos e por isso é fundamental continuarmos a pensar o jogo.
Todos temos uma ideia de jogo idealizada na nossa cabeça e por isso questiono-me sobre o seguinte: Será sempre possível transformar o jogar idealizado num jogar realizado?
São múltiplos os fatores que interagem direta e indiretamente na conceção de uma ideia jogo.
Os jogadores são no meu entender o fator primordial na tomada de decisão do treinador.
Tendo sempre como base o jogar idealizado, são os traços de personalidade e as características individuais dos jogadores sob nossa orientação que determinam qual será a nossa ideia de jogo.
Traços de Personalidade porquê?
O futebol é um jogo extremamente competitivo e desgastante a nível físico mas acima de tudo a nível emocional. É um jogo de emoções, de paixão, e por isso a motivação é maioritariamente intrínseca. É por isto que dou tanto valor ao perfil psicológico dos atletas na construção de uma ideia de jogo. Justificar apenas que dissocio as características psicológicas (traços de personalidade) das restantes características individuais porque para mim são tão importantes que merecem um lugar de destaque.
Características individuais porquê?
Como diz o ditado popular, “não se fazem omeletes sem ovos”. No contexto do tema que estamos a falar, faz algum sentido, ainda assim em tempo algum poderá servir de desculpa para não adaptarmos o nosso jogar idealizado. Seguindo a lógica dos ditos populares, creio que me identifico mais com este: “quem não tem cão caça com gato”.
"Uma coisa é aquilo que eu tenho outra coisa é aquilo que eu gosto."
Abel Ferreira em Quarentena da Bola, 7 Abril de 2020
Ao fim ao cabo, o que quero dizer com isto é que devemos recusar ter uma conceção do jogo fechada e conservadora. No meu entender devemos olhar primeiramente para a nossa realidade, avaliá-la e depois dentro do nosso jogar idealizado criarmos uma ideia de jogo que nos dê prazer em jogar. A nós, aos nossos jogadores e aos nossos adeptos.
Considero que existe uma enorme dependência da qualidade global dos jogadores que temos à disposição na construção da nossa ideia de jogo.
Então mas onde é que ficam as nossas ideias, aquelas do nosso jogar ideal?
É aqui que os traços de personalidade, que dei primazia à pouco, são tão importantes para mim, isto porque se eu quero que o meu jogar idealizado seja independente e se torne num jogar realizado devo contar com atletas mentalmente disponíveis...
Disponíveis para:
Aprender novas competências e convicções (as minhas)
Otimizar as suas competências e convicções (as que eu identifiquei como vantajosas para a ele e para a nossa ideia coletiva)
Desaprender as suas competências e convicções (as que eu considero pouco vantajosas para ele e para a equipa)
É fundamental que o atleta acredite nisto. Ao princípio é natural que surja alguma resistência, mas devemos (saber) insistir, de modo a otimizarmos a performance do nosso jogador dentro do nosso jogar. Certo é que à medida que o seu desempenho em competição for superior ele estará ainda mais disponível para seguir as nossas ideias.
Isto porquê? Simples. Porque ele sentirá prazer ao realizar as ações que nós identificamos como vantajosas para ele e que em conjunto temos desenvolvido.
Portanto, iremos criar um fato à medida dos nossos atletas, que servirá na perfeição à nossa equipa e que todos vamos ter prazer em vestir.
A minha sugestão passa por aceitarem com naturalidade que o jogar realizado irá depender dos jogadores que têm à disposição mas que o vosso jogar idealizado deve ser independente disso. Cabe ao treinador encontrar um equilíbrio entre estas orientações.
Que a bola volte a rolar rapidamente... Estamos prontos!
INGLÊS
We are all going through a strange period. Being at home, watching games from the 90s or the great European campaigns of Portuguese clubs is good but it is not enough!
I am (we are) completely dependent of this game, and is a huge void without it.
"Football is a drug. It is not money. It is passion, it is love. We are a little autistic. We look like ghosts at home, but this is really passion"
Vítor Pereira at ANTF 2019 Forum
If you are like me, surely you are already with your head on the next challenge.
“Next season i will build from the back with the defensive midfielder falling between the center backs”
“next season i will play with the wingers coming inside and the full backs always very wide and projected”
“next season i will play with 2 forwards”
Inspired by the game we love, these and other ideas must have come to your mind. This is perfect! In "isolation" our brain needs stimulation and that is why it is essential to continue thinking about the game.
All of us have a style of play idealized in our head. Thinking about it I ask this: It will be always possible to turn the idealized style of play in a performed style of play?
There are multiple factors that interact directly and indirectly in the design of a style of play.
Players are in my opinion the key factor in coach decision.
Always based on idealized style of play, are the personality traits and individual characteristics of players under our guidance who determine what style of play we will design.
Why Personality Traits?
Football is an extremely competitive and physically demanding game but at the emotional level that is more exhausting. It is a game of emotions, of passion, and for that reason motivation is mostly intrinsic. That is why I give so much value to the psychological profile of the athletes in the construction of a style of play idea. I separate the psychological characteristics (personality traits) from the other individual characteristics because for me they are so important that they deserve a place of prominence.
Why individual characteristics?
As the portuguese popular saying goes, “you can’t make a omelet without eggs”. In the context of the topic we are talking about, it makes some sense, however, it can never be an excuse for not adapting our idealized style of play. Following the logic of the portuguese popular sayings I identify myself more with this: “who doesn't have a dog hunting with a cat”.
"One thing is what I have, another thing is what I like."
Abel Ferreira in Quarentena da Bola, April 7, 2020
In the end, what I mean is this. We should refuse have a conception of the game closed and conservative. In my opinion, first we should check our reality, evaluate it and then, accordance with idealized style of play, create a game idea that gives us, our players and our fans pleasure to play.
I consider the style of play that we want create depends a lot of the overall quality of players we have under our guidance.
And the ideas of my idealized style of play?
It is here that the personality traits, which I have gave primacy in some paragraphs above, are so important to me, because if I want my idealized style of play be independent and become an performed style of play, I must have mentally available athletes...
Available for:
Learning new skills and beliefs (the ones of my idealized style of play)
Optimize your skills and beliefs (those that I have identified as appropriate to him and to our team)
Unlearning his skills and beliefs (the ones that I consider inappropriate for him and the team)
It’s essential that the athlete believes in this. At first it's natural we feel some resistance from him but we must (know to) insist, to optimize our player's performance inside of our style of play. Surely he will be more willing to follow our ideas when he started to have results. And he will have it.
How? Simple. Because he will feel pleasure to carry out the actions that we have identified as appropriate for him and that we have developed together.
We will create a suit tailored to our athletes which will serve perfectly to our team and that we will all have pleasure to wear.
My suggestion is that we should accept naturally that the style of play performed depends of the players we have available but the idealized style of play should be independent of that. It’s responsibility of coach find a balance between these guidelines.
I miss the ball in the grass. We are ready!
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